quarta-feira, 19 de maio de 2010

Todo dia é dia de Índio

O EVENTO ABAIXO PUBLICADO ACONTECEU DIA 19 DE ABRIL DE 2010, INFELIZMENTE POR MOTIVOS DE DESCONEXÃO DE INTERNET E ACONTECIMENTOS DIVERSOS NÃO PUBLICAMOS ANTES.


A EMEF. Princesa do Xingu por meio do Programa Mais Educação, promoveu no dia 19 de Abril o evento sócio-educativo denominado “Todo dia é dia de Índio” enquanto ação indigenista, a efeito de celebração, propagação e valorização da cultura dos povos ameríndios e sua rede de significados, como homenagem à afirmação identitária com referência às suas crenças, valores, costumes, modos de vida, visando a desestiguimatização do índio enquanto figura simplória e caricata conforme os significados negativos historicamente construídos por outros grupos de pertencimentos étnico-raciais e culturais supostamente dominantes e ainda fortemente vigentes em nosso espaço social.

Essa iniciativa contempla a possibilidade de exercitar a construção de uma (re) leitura e atribuição de uma nova denotação aos conceitos e significados negativos construídos histórico e culturalmente pelo branco europeu, fixados em nossa memória por meio de práticas sociais e processos sistêmicos educativos de caráter hegemônico e fielmente reproduzidos ao longo do tempo pelos demais grupos étnicos, colocando o índio em condição ínfima e depreciativa.

A EMEF. Princesa do Xingu atenta para a apropriação de referenciais históricos como o Dia do Índio (19 de abril), para a construção de uma ação afirmativa, de reconhecimento, valorização e respeito das expressões, condições e manifestações étnico-raciais e culturais dos povos indígenas, como estimulo aos que se apropriam da escola enquanto instrumento de construção e resgate da cidadania humana e aperfeiçoamento do trabalho docente frente ao universo diverso que agrega os espaços educacionais. Concomitante a iniciativa presente visa à minimização das diferenças nos espaços escolares ou fora dele como forma de desenvolver uma consciência crítica aos educandos, considerando a escola como espaço de transformação e construção de sujeitos politizados em sua ambiência social, capazes de agir pela transformação do mundo futuro, para a garantia, senão em um mundo mais justo, pelo menos, mais facilmente sociável, habitável pelas gerações futuras.

Cronograma da programação

Alocução de Abertura: Profª Elisangela Enes

1º Momento: Jardim e 1ª séries – (Gilvânia e Jozelma).

A música: “indiozinho”.

2º Momento: 2ª série (A e B) – Profª Joseane.

Declamação da lenda da mandioca.

Mani: Luana.

3º Momento: 3ª e 4ª séries (A e B) - Prof° Antônio Pedro.

Jogral: “Habitantes do solo brasileiro”.

Dentro da cultura indígena podemos encontrar a arte plumária, a pintura corporal, as danças, os cantos, a arte de cerâmica, os instrumentos musicais e os instrumentos de caça, um repertório enorme de lendas e mitos e uma vasta cultura alimentar conquistada através da caça, da pesca, da agricultura de milho, amendoim, feijão, abóbora, batata-doce e principalmente mandioca. Esta agricultura era praticada de forma bem rudimentar, pois era feita somente para a sobrevivência dos índios.

4º Momento: Poesia da lenda do Curupira

Orientação: Gilda Juaquina/monitora - Letramento

Curupira: Júlio Barreto/6ª série

5º Momento: Leitura do testamento indígena: Profª. Antonia Nascimento

6º Momento: A lenda do Uirapuru

Orientação: Jocélio Ferreira/monitor - Teatro

Interprete: Denise Martins

7º Momento: KUARUP, O RITUAL DO PRANTO NO XINGU

Artistas: alunos do Mais Educação

Modalidade: Teatro

O Quarup (Kuarup) é um ritual de homenagem aos mortos ilustres celebrado pelos povos indígenas da região do Xingu, no Brasil. Kuarup também é o nome de uma madeira. Em sua origem o Quarup teria sido um rito que objetivava trazer os mortos de novo à vida. O ritual Kuarup é realizado uma vez por ano, entre os meses de julho e setembro, sendo marcado por prantos e lamentações, numa saudação dos índios a seus mortos ilustres, encerrando o período de luto. É quando os índios choram, pela última vez, a partida de seus entes queridos.

À noite acontece o momento de ressurreição simbólica do chefe homenageado, sendo um momento de grande emoção. Então as carpideiras começam o choro ritual, sem que os cantos em volta sejam interrompidos. Aos primeiros raios do sol do dia seguinte o choro e o canto cessam, os visitantes anunciam sua chegada com gritos, e iniciam competições entre os campeões de cada tribo, seguidas de lutas grupais para os jovens.

8º Momento - Jogos indígenas

Orientação: Profª Fernanda - Educação Física

Eliara Nascimento/monitora da modalidade Futebol e atividades esportivas

Profº. Paulo Fernando – ensino médio

Histórico do Jogos indígenas

Os JOGOS INDÍGENAS surgiram da necessidade de superar a imagem vista de um modelo de um índio depressivo, como também reunir as comunidades indígenas desenvolvendo o aspecto lúdico da prática esportiva, revelando e resgatando as manifestações culturais, com o anseio principal de fortalecer a confraternização entre tribos e entre a sociedade não indígena. Em todas as comunidades indígenas a maior expressão de exaltação era conquistada através das manifestações culturais, ou seja, através da arte plumária, pinturas corporais, danças, cantos, instrumentos musicais e esportes tradicionais. Sendo que, através dos Jogos Indígenas foi possível aproximar cerca de 180 etnias e mais de170 línguas indígenas ainda existentes no Brasil, fortalecendo assim a sua cultura.

O idealizador dos Jogos foi o índio Carlos Terena na década de 80, mas apenas em 1996, com a entrada de Pelé no Ministério Extraordinário dos Esportes que o sonho começou a se concretizar. Com o apoio do Instituto Nacional do Desenvolvimento do Desporto (Indesp), os principais líderes indígenas puderam participar durante o período de 16 a 20 de outubro de 1996, em Goiânia (GO), a primeira edição dos JOGOS INDÍGENAS. O evento contou com a participação de 25 etnias que enviaram mais de 400 atletas para a competição.

De acordo com o artigo 217, inciso IV da Constituição Federal do Brasil, os JOGOS ÍNDIGENAS, visam promover o intercâmbio esportivo-cultural entre os diferentes povos indígenas brasileiros, revelando ao público o universo que traduz a harmonia e equilíbrio das sociedades tribais, manifestando através de suas danças, cantos, pinturas corporais e gestos esportivos próprios, o autêntico ritual do esporte de criação nacional.

Modalidades e Regras dos Jogos indígenas.

Ø CORRIDA DE TORAS: a execução desse esporte difere de uma tribo pra outra em diversos aspectos, obedecendo a seus ritos tradicionais que podem ser de significado social e religioso.


Ø Regra: cada tribo deverá inscrever quatro atletas para que assim, eles possam fazer o revezamento durante a corrida.

Ø ATLETISMO: os índios sempre se interessaram em trabalhar seu preparo físico. Com isso, tornam-se verdadeiros competidores, adaptando-se e aprendendo, com a natureza a caçar e pescar, percorrendo grandes distâncias, atravessando lagos e rios em busca de alimento.

Ø Regra: cada tribo indígena poderá inscrever no máximo duas equipes, uma masculina e feminina, composta por 02 (dois) atletas.

Ø ARREMESSO DE LANÇA: várias etnias indígenas conhecem esse armamento, possuindo técnicas diferentes de confecção das lanças. Na tradição indígena, é usada para caça, pesca (arpão) ou para defesa em um ataque de animal feroz.


Ø Regra: é uma prova individual. Nos Jogos, a contagem dos pontos é feita de acordo com a distância alcançada, ou seja, vence aquele que atingir maior distância.

Ø CABO DE GUERRA: modalidade praticada para medir a força física, o cabo de guerra é muito aceito entre as etnias participantes de todas as edições dos Jogos, como atrativo emocionante, que arranca manifestação da torcida indígena e do público em geral.


Ø Regra: cada tribo poderá inscrever no máximo duas equipes (masculina e feminina), compostas pelo mesmo número de atletas que o seu adversário inscrever.

Ø ARCO E FLECHA: os povos indígenas usavam muito esse instrumento como arma de guerra. Atualmente, é usado para a caça, pesca e rituais, e tornou-se também uma prática esportiva, sendo disputada entre aldeias e até com não-indígenas.


Ø Regra: é uma prova individual cada tribo deverá inscrever 02 (dois) atletas (1F e 1M) sendo essa modalidade uma competição individual. Cada atleta terá o direito a 03 (três) tiros, o alvo será o desenho de um peixe e a distância de aproximadamente 12 metros. A contagem de pontos reunirá a soma de acertos em cada área do alvo.

Ø FUTEBOL: esporte já inserido no contexto cultural de vários grupos indígenas, sendo unanimidade nos jogos e praticado por atletas femininos e masculinos.


Ø As regras: são regidas pela Instrução Geral dos Jogos e obedece ao padrão da Confederação Brasileira de Futebol, com o tempo de jogo de 10 min.

Encerramento: Agradecimentos ao público presente, a todos os professores e professoras da educação infantil, ensino fundamental e médio, coordenador, monitor e monitoras do programa mais educação, alunos e alunas que se empenharam na confecção dos adereços, pessoal de apoio, alunos do Ensino fundamental e médio que estão atuando diretamente no evento, e a todos aqueles que contribuíram de alguma forma para a realização deste evento.



Todo dia é dia de Índio

Vivemos em pleno estado de ignorância, exercitando caprichosamente nossa engenhosa estupidez, (estandarte da visão etnocêntrica petrificada em nossa essência) frente a tudo que é diverso, novo, dessemelhante ao nosso grosseiro modo de ser, porque assim é que fomos gentilmente treinados e compelidos a vida inteira pelos indelicados domesticadores importados, portadores da maldita cultura hegemônica, aquela douta que se enaltece e por isso se impõe dominante, mestre na arte de aprisionar, limitar e corromper a mente da gente.


E assim somos. Herdeiros por excelência de uma miscelânea étnico-racial em carne e espírito a qual insistimos em macular imutavelmente por confiarmos impiedosamente o grande legado de nossos ancestrais a outrem. Malditos transeuntes impostores!

E somos tão estúpidos que criamos, ou pelo menos aderimos o 19 de abril, data burlesca para ilusória celebração do índio, sem perceber que antes do equivocado colonizador nessa terra “mãe gentil” Todo dia era dia de índio. E assim é. Acreditem! Compulsivamente nos arrastamos automatizados dia após dia, disparando rajadas de preconceitos em direção ao “diferente”, reprimindo, silenciando, humilhando, estereotipando, negando a gente da gente. A gente que canta outro canto, que dança outro ritmo, que cultua outros deuses, que tem outras cores, outros sonhos, que se alegram, sofrem, sentem, vivem e querem ser livres. Livres como o índio oswaldiano que “nunca se consumiu em dilemas metafísicos”.


Mas, na profundeza da nossa arcaica memória histórica e cultural somos eminentemente jovens pra saber que acreditamos em nós mesmos e podemos explorar nossa sensibilidade, aceitar e conviver mutuamente com pessoas, cores, jeitos, trejeitos, exercer nossa capacidade crítica...


Eia! Estimados confrades! Pois que chega o mágico momento da libertação do pensamento doentil. Façamos uma (re)leitura do ato simbólico a que resume um simplório dia de Índio, revelado em nossos hábitos costumeiros que traduzem datas como esta num sacrifício instrumentalizado ao invés de festa ritualística. A propósito, nisso somos peritos: em transformar datas alusivas em ridículas comédias, ou em meros atos mal-traduzidos, manifestos em imitações deturpadas, tortas, enfadonhas. Isso quando não nos damos o trabalho de adiar pra não vivenciar (algo típico dos contextos escolares), ou quando não nos esforçamos pra esquecer que esses “diazinhos” fazem parte do calendário nacional.


Saímos do teatro da crueldade para protagonizar a cena da vida real. Ser como somos e alegrarmo-nos com isso: índios, mestiços, negros, caboclos, morenos, devorares de tabus, celebradores da existência palpável da vida num ritual subversivo, colossal, metaforicamente antropofágico, de exortação à vida. E se temos loiros pêlos, olhos azuis e pele branca, não nos enganemos. Mera ilusão! Somos mestiços do mesmo jeito. O que aconteceu foi o acasalamento de mentes corrompidas, devotas da cultura européia. Profusão de energias deturpadas em gozo mútuo.


Ora, pois fizemos foi festa! Cantamos, rimos, dançamos, jogamos, brincamos, carnavalizamos a mistura da construção de nós mesmos. Índios de todas as cores!

Seria fantástico se nossa festa virasse um manifesto antropofágico, um ritual de devoração da cultura dominante. Uma devoração carnificina. Ah! Se ousássemos agir como ferozes canibais, mas não aqueles da cena tupiniquim que devoravam por vingança e assimilação a efeito de legitimação de sua tradição cultural. Bem que a gente podia, no inusitado calor do rito, devorar sem piedade, deglutir pra higienizar, pra eliminar a sujeira que colocaram em nossa mente, na família, nos currículos, nas igrejas, nas casas oficiais, nas escolas e que se proliferam mais e mais. Uma celebração sem muita ostentação, pelo puro prazer de ser, que naturalmente ia contagiando, corroendo, invadindo mentes e espíritos até se transformar num rito subversivo, de “carnavalização de todos os valores”, “uma celebração por excesso”. Tá dando um nervosismo é melhor deixar pra lá. Eh! Talvez seja mais cômodo deixar tudo como está e alimentar nossa egoísta covardia.

Aproveitamos o tempo que é de copa e festejamos o Brasil culturalmente sincrético que agrega em seu interior diversos povos com línguas e costumes distintos, diferentes raças e religiões, tradições múltiplas e etc; o que lhe compete o título de país multicultural, Estado plurinacional. E nessa festança damos destaque à diversidade étnica e cultural dos povos indígenas existente neste vasto mundo brasileiro cujo valor é de grande relevância tendo em vista sua representação histórica, cultural e social que legitimamente (ainda que silenciada) se faz singular e, por conseguinte superior a qualquer soberania enlatada, inventada, enrijecida, apática.

Às claras, o silenciamento depreciativo a que foram confinados os povos indígenas ao longo da história se configura como resultado de invasivos processos políticos e sociais decorrentes da cultura dominante cujo propósito visa domesticar, reprimir, explorar e, por conseguinte extinguir esses grupos étnicos para a disseminação de mecanismos sócio-econômicos e culturais provenientes de outros contextos.

Dito de outro modo, num discurso douto e sistematizado, promovemos foi uma ação indigenista, a efeito de celebração, propagação e valorização da cultura dos povos ameríndios e sua rede de significados, como homenagem à afirmação identitária com referência às suas crenças, valores, costumes, modos de vida, visando a desestiguimatização do índio enquanto figura simplória e caricata conforme os significados negativos historicamente construídos por outros grupos de pertencimentos étnico-raciais e culturais supostamente dominantes e ainda fortemente vigentes em nosso espaço social.

Se quisermos, a extraordinária atmosfera do nosso rito não precisa parar. Pode incitar a construção de uma nova denotação aos conceitos e significados negativos, construídos histórico e culturalmente pelo branco europeu, fixados em nossa memória por meio de práticas sociais e processos sistêmicos educativos de caráter hegemônico e fielmente reproduzido ao longo do tempo pelos demais grupos étnicos, colocando o índio em condição ínfima e depreciativa como se este não fosse gente da gente.

Profº. Everaldo Oliveira

Mais Educação em Ação!


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